domingo, 22 de maio de 2011

Extensão Rural

         Extensão compõe um dos três pilares do sistema universitário mundial, junto a pesquisa e ao ensino. Enquanto o ensino trata da ministração do conhecimento formal ou curricular, a extensão trata da difusão, da vulgarização do conhecimento por meios e métodos extra-escolares, a exemplo de conferências, palestras, cursos de curta duração, seminários, no contato direto dos educadores com os educandos, em seus lares e comunidades, etc.

         O conhecimento de que se fala refere-se, geralmente, aos resultados obtidos pela pesquisa ou colhidos em outras fontes do saber. Logo, a mais correta definição de extensão é que se trata de um processo educativo, extracurricular ou informal.

         A extensão rural, de forma organizada e considerada clássica pelos que estudam sua história nasceu nos Estados Unidos, na década de 80 do século dezenove. Foi quando os resultados das pesquisas realizadas nos Centros de Experimentação e nos Colégios Agrícolas precisaram ser divulgados entre os produtores rurais que surgiu o “Extention Service”, com seus métodos pedagógicos próprios, caracterizados principalmente pelas demonstrações.

         Essas demonstrações eram realizadas diretamente nas propriedades dos agricultores, geralmente no terreno de um líder comunitário, sob o princípio pedagógico do “ensinar a fazer, fazendo”. Quer dizer, o técnico tinha que realizar a prática (ou a demonstração) na frente dos agricultores após o que ela era repetida, comentada e avaliada pelos presentes.

         Para facilitar a compreensão das demonstrações os agentes de extensão utilizavam-se de meios áudio-visuais de comunicação, a exemplo de fotografias, álbuns seriados, flanelágrafos, ampliadores de som, impressos (cartas circulares,folhetos,folders,jornais e muitos outros meios).

         O serviço de extensão era dirigido à família agricultora e toda ela participava nos projetos executados. Os adultos recebiam novos conhecimentos sobre agricultura, pecuária combate a doenças e pragas das plantas, adubação do solo, épocas apropriadas de plantio, armazenagem, uso correto de máquinas agrícolas, alimentação balanceada dos animais, saneamento básico na propriedade, práticas de higiene pessoal, educação alimentar, educação para a saúde, melhoramento do lar, cuidados com os recém-nascidos, conservação de alimentos e outras práticas.

         Os jovens recebiam atenção especial e tanto os rapazes quanto as moças eram iniciados em todas as práticas realizadas pelos adultos. Ponto importante era a organização de grupos de adultos, na época separados entre homens e senhoras e moças e os grupos de jovens, estes sem separação de sexos, denominados de Clubes 4S, Futuros Fazendeiros e outros.

         Atribui-se a pesquisa agropecuária e à extensão rural o sucesso da agricultura norte-americana, fundada na propriedade familiar de médio porte econômico. A estratégia adotada era que com crédito (financiamentos) acompanhado de assistência técnica, econômica e social, correta, às famílias rurais era alcançado o aumento da produção, da produtividade, do trabalho humano, a elevação da renda e da qualidade de vida das famílias rurais. Foi esse o modelo adotado pelo estado de Minas Gerais, em 1948, quando teve inicio o serviço de extensão rural no Brasil, executado pela Associação de Crédito e Assistência Rural-ACAR, uma associação civil e sem fins lucrativos, de direito jurídico privado. Sete anos depois, Juscelino Kubitschek, baseado nos bons resultados obtidos pela ACAR-MG,  assinou um acordo com o governo norte-americano e criou o escritório Técnico de Agricultura-ETA, visando uma cooperação técnico-financeira, para execução de projetos de desenvolvimento rural,  entre os quais se destacava a extensão rural.

         Em 1956, Santa Catarina criava o serviço de extensão,com o nome  ETA-PROJETO17,adaptando processos administrativos,filosofia,princípios e metodologia utilizados pela ACAR de Minas. Como o ETA só tinha vigência por 4 anos,criou-se a Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina (ACARESC) em 1957,para continuar os trabalhos do ETA-PROJETO17.

         No âmbito nacional foi criada a ABCAR, também nos moldes da ACAR-MG, para coordenar a extensão no Brasil. Em 1974 a ABCAR foi extinta e criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e teve início uma queda na qualidade dos serviços de extensão em todo o País. Atribui-se, entre outras, como causa principal a interferência político-partidária nos serviços de extensão.

         Em 1984, a EMBRATER definia a extensão rural como processo educativo com o objetivo de contribuir para a elevação da produção, da produtividade da renda e da qualidade de vida das famílias rurais, sem dano ao meio ambiente. Iniciava-se uma nova e importante visão do futuro visando a sustentabilidade das atividades agrosilvopastoris no Brasil. No governo Fernando Collor a EMBRATER foi extinta e os recursos federais ficaram reduzidos de tal forma, que vários serviços estaduais de extensão foram extintos. Em Santa Catarina, em 1990, o governador Vilson Kleinubing “fundiu” os serviços de pesquisa com os de extensão visando economia nos gastos, além de outras motivações pouco racionais. O resultados foram mais uma queda na qualidade dos serviços prestados, tanto pela pesquisa quanto pela extensão, com aumento de custos e não com a redução de custos pretendida. Hoje, buscam-se novos caminhos para a EPAGRI (empresa que resultou da fusão da ACARESC com a ACARPESC, a EMPASC e o IASC), visando recuperar a qualidade dos serviços que deram prestígio às instituições de extensão rural e de pesquisa agropecuária que lhe deram origem.


 Clipping de: ASBRAER
Autor: Glauco Olinger
Engenheiro agrônomo