segunda-feira, 21 de março de 2011

21 de Março: Dia das Florestas

Por: Roberto Ferron*

Coincidência ou não, as florestas estão no centro do debate político  que permeia o Brasil do Iapoque ao Chuí, por conta da discussão sobre o  novo Código Florestal que tramita no Congresso Nacional.  A proposta apresentada pelo relator,  Deputado Aldo Rebello,  propõe uma reformulação completa do atual Código Florestal Brasileiro, que foi instituído pela Lei 4.771, de 15/09/1965. A votação deverá ocorrer até o próximo mês de março.

Segundo a ONU, as florestas são o lar para 300 milhões de seres humanos e para 80% da biodiversidade terrestre. Sendo que, 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo dependem diretamente delas para sobreviver. No Brasil, 70% da população vive na área original da Mata Atlântica. E é por esta ocupação que restou apenas 7% desta mata que possui a maior diversidade do planeta. Com o intuito de promover a preservação do verde para uma vida sustentável no planeta, a Assembléia Geral das Nações Unidas declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas. Para celebrar as ações em torno da preservação deste recurso fundamental em todo o mundo, a ONU criou o site oficial do Ano Internacional das Florestas, onde é possível ver os eventos organizados ao longo do ano, e ainda, divulgar suas próprias ações em relação à causa. No site também é possível conhecer dados e estatísticas sobre este ecossistema – www.un.org/en/events/iyof2011/

As florestas nativas somam  36% do total de área de florestas em todo o mundo, já 57% são classificadas como áreas florestais regeneradas, e 7% são áreas reflorestadas (264 milhões de hectares). Elas são um dos mais fantásticos ecossistemas terrestres. A biodiversidade, que significa a diversidade de espécies vivas, como animais, aves, vegetais, fungos, algas e microorganismos, é imensa e riquíssima. Acredita-se que existam nas florestas tropicais quase a metade de todas as espécies animais e vegetais, cerca de um terço das aves e uma grande parte dos insetos e microorganismos existentes na terra.

Os países com maior área de floresta do mundo são Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China, que juntos somam mais de 50%. Dos 233 países pesquisados, 10  países não possuem florestas, e outros 54 possuem menos de 10%. Mesmo diante de tanta vida e exuberância, os desmatamentos continuam, entre 2000 e 2010 foram  convertidos 13 milhões de hectares para a  agricultura e pecuária.  Os dados são da FAO, fornecidos pelo Global Forest Resources Assessment, que divulga de cinco em cinco anos a situação atual e tendências de diversos temas,  como a situação da cobertura florestal, condições, usos, valores e processos utilizados na exploração florestal.

O Brasil é um país florestal, pois detém 14,5% das florestas do mundo, e 63% de seu  território é  ocupado por florestas. Nossa área territorial corresponde a 851 milhões de hectares,  sendo 528 milhões de hectares (62%) de florestas nativas. Nossos Biomas são representados pela Amazônia com 417 milhões de hectares (49,0%) , o Cerrado com 200 milhões de hectares (23,5%), a Mata Atlântica com 110 milhões de hectares (13,0%), Caatinga com 85 milhões de hectares (10,0%), o Pampa com 23 milhões de hectares (2,0%), e o Pantanal com 15 milhões de hectares (1,70%).

As áreas são ocupadas por  173 milhões de hectares (20,3%) de campos e pastagens, 50 milhões de hectares (5,9%) de culturas anuais (soja ocupa 23 milhões de hectares), 15 milhões (1,7%) de culturas permanentes (café, cana de açúcar, entre outras), 7,0 milhões (0,8%) de florestas plantadas (eucaliptos, pinus, entre outras), ainda temos 40 milhões (4,7%) de terras não utilizadas, 20 milhões (2,4%) de áreas urbanas,  e 187 milhões (22%) de unidades de conservação, terras de índios, áreas de preservação permanente e reserva legal.

Temos uma imensa riqueza florestal natural que é Floresta Amazônica, uma das maiores do planeta. No entanto, continua sendo alvo de exploração predatória e ilegal, ameaçando sua conservação e manutenção. Apesar dos esforços do poder público, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estimou, em 2008, que o volume de madeira ilegal que saiu da  Amazônia abasteceu grande parte do mercado nacional, chegando próximo a  90% do total consumido no país.

O mercado de produtos florestais mundiais gira em torno de U$ 100 bilhões ano, sendo um forte gerador de postos de trabalho, empregando 10 milhões de pessoas. O  consumo brasileiro de produtos florestais é de aproximadamente 400 milhões de metros cúbicos, sendo que 240 milhões (60%) provem das florestas nativas, e 160 milhões (40%) das florestas plantadas, embora tenhamos 7,0 milhões de hectares de florestas plantadas. E que pela oferta atual, ainda não atende a demanda brasileira.  Se o Brasil é considerado o celeiro mundial de alimentos e um grande exportador, também o setor florestal brasileiro é exportador, embora detenha apenas 2% do mercado mundial. Os produtos florestais correspondem a 4% do PIB, 5% das exportações brasileiras, geram 700 mil empregos diretos e 2 milhões indiretos,  na fabricação e comércio de papeis somos o 11º produtor mundial (2,2% da produção),  de celulose somos  o 7º colocado (4,2%), na de madeira serrada somos o 5º colocado (4,3%). Já temos uma das melhores silviculturas do planeta, nossas condições climáticas são ótimas (água, solo, sol), temos terra disponível em abundância, basta compreendermos nosso potencial imbatível, desmistificar os “tabus estabelecidos” contra as “árvores exóticas”, e termos políticas publicas duradouras para o setor florestal, que no futuro poderemos ser o celeiro, maior produtor  e exportador mundial de produtos florestais. 

Em plena era tecnológica, continuamos implantando atividades do ponto de vista econômico insustentável na Amazônia, com a criação de gado e o cultivo da soja. Assim, com o objetivo de frear e combater a degradação das florestas, em 2008  foram criados  os pactos da madeira, da soja e da carne, por imposição da sociedade internacional. Para o sistema produtivo rural nacional, a floresta continua sendo um empecilho ao desenvolvimento.

Ainda, permanecem escondidas e desprezadas nas florestas brasileiras, nosso maior tesouro, a biodiversidade, salva-guarda para as futuras gerações. Se todos, governos e a sociedade souberem cuidar desta extraordinária riqueza, e compreender sua magnitude, teremos  a disposição da nação brasileira e de seu povo um novo “pré-sal verde”. 

 Engº Florestal Roberto M. Ferron (CREA/RS 39.188 D) – Membro da Comissão de Engª. Florestal da Inspetoria  do CREA-Erechim – Membro da Comissão de Meio Ambiente da OCERGS- Diretor do Departamento de Florestal e Áreas Protegidas – DEFAP/SEMA