quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Boi Gordo

Por: Lygia Pimentel

O brasileiro é um tradicional consumidor de carne. É o 4º colocado no ranking mundial de consumo per capita de carne bovina, 6º lugar para a carne de frango e 31º para a carne suína, ou seja, a proteína animal faz parte da alimentação da população e o aumento do seu poder de compra tende a diminuir a nossa posição.

Aqui, a demanda pela carne bovina sofre influência de diversos fatores como preço no varejo, qualidade da proteína, gosto e, principalmente, a restrição orçamentária, isto é, a renda. A isto chamamos elasticidade-renda que, no Brasil, gira em torno de 0,5, o que significa que para cada 10% de aumento sobre o poder de compra, o consumo é impactado positivamente em 5%. Além disso, também compete com as proteínas “concorrentes”, ou seja o frango e o suíno. Quando o preço da carne bovina está alto, há migração da demanda para proteínas mais baratas e, consequentemente, esse movimento impulsiona os preços dessas proteínas para cima.

Hoje, o preço do quilo da carne bovina está 125% mais caro do que o quilo da carne de frango. Já em relação à carne suína, essa diferença está na casa dos 170%! Em termos históricos, esses são patamares jamais vistos e, obviamente, acabam tornando a carne bovina menos atraente ao bolso do consumidor. Não podemos esquecer de que o brasileiro viu o seu poder de compra aumentar substancialmente nos últimos tempos e isso também favorece o consumo da carne bovina, mesmo que esteja mais cara. Considerando-se a compra de cestas básicas com um salário mínimo, o número saltou de 1,22 em 1997 para 1,95 em janeiro de 2011. Vale lembrar que em janeiro de 2010, essa relação chegou a 2,27.

A avicultura brasileira passou por um bom período em 2010. O ano foi considerado como um dos melhores da década passada para o setor. Impulsionado pela fortíssima alta registrada para a carne bovina, o frango ganhou competitividade, seguiu na mesma esteira e mostrou reação no segundo semestre. Os preços no período reagiram 31%. As exportações cresceram 17% em volume e 10% em faturamento no segundo semestre de 2010, se comparado ao primeiro. Os custos de produção, no entanto, variaram acima disso. O milho, principal insumo utilizado da produção de aves, subiu 52% no período, estreitando a margem do avicultor.

No caso da suinocultura, o cenário é obscuro. O setor conta com um aumento produtivo, estimulado pela forte valorização ocorrida no semestre passado. Os preços reagiram 22% no período. As exportações, no entanto, patinaram. Houve crescimento de 2,5% para o faturamento, mas o volume embarcado ficou praticamente estável, tendo registrado queda de 0,1%. O consumo interno, no entanto, conseguiu absorver o excedente. Agora, a suspensão das importações de carne suína por parte da Rússia reforça a oferta interna de carne e causaram pressão negativa sobre as cotações, juntamente com uma oferta maior do produto. Considerando-se o início de 2011, os preços do suíno já caíram incríveis 34%.

Com um cenário internacional em recuperação/expansão que traz aumento da demanda pela carne brasileira e com o aumento do poder de compra do brasileiro, pode ser que estejamos vivenciando um novo patamar de preços para a carne bovina. Entretanto, a competitividade atingida pelas proteínas chamadas “concorrentes” fica bastante clara quando comparamos preços e spreads entre uma e outra. Portanto, é bom estar bastante cauteloso em relação a novas reações explosivas, mas preparado para preços ainda sustentados pela demanda.


Fonte: http://www.agroblog.com.br/
Autor : Lygia Pimentel