Brasil aumenta qualificação para atender mercados como o muçulmano e o judaico
Alguns povos condicionam sua alimentação a preceitos religiosos. Hindus não comem carne bovina, por considerarem a vaca um animal sagrado. Budistas também evitam carne e costumam adotar o estilo vegetariano. Judeus e muçulmanos, por sua vez, não aceitam a ingestão de carne suína, já que para os padrões dessas religiões, o porco é um animal impuro. Nessas duas últimas culturas, as carnes bovina e de aves são permitidas, desde que o animais tenham sidos mortos sob as bênçãos de suas crenças. As agroindústrias brasileiras vêm se especializando para atender as exigências desses mercados nos quais a fé rege também os hábitos alimentares.
O incremento das exportações para o Oriente Médio, onde a maioria da população (90%) segue os preceitos do líder espiritual Maomé, despertou o interesse de frigoríficos e, por outro lado, ampliou a possibilidade de compra da população daqueles países e de outros que seguem as mesmas leis, a exemplo dos asiáticos Malásia e Indonésia. Carnes com abate diferenciado, conhecido como halal, ganham espaço nas linhas de produção de grandes empresas.
O incremento das exportações para o Oriente Médio, onde a maioria da população (90%) segue os preceitos do líder espiritual Maomé, despertou o interesse de frigoríficos e, por outro lado, ampliou a possibilidade de compra da população daqueles países e de outros que seguem as mesmas leis, a exemplo dos asiáticos Malásia e Indonésia. Carnes com abate diferenciado, conhecido como halal, ganham espaço nas linhas de produção de grandes empresas.
Na prática, o termo halal significa permitido para consumo, mas o conceito ultrapassa o simples consentimento, tratando de princípios que vão do respeito a todos os seres vivos até questões sanitárias. A preocupação com a higiene do alimento estende-se ao bem-estar do animal, no caso dessas proteínas. Para os islâmicos, o ritual de abate do boi ou do frango deve ser feito apenas pela degola, para garantir a morte instantânea do animal. No sistema tradicional de abate bovino, a insensibilização por meio de métodos que levam ao atordoamento deve ser feita antes da sangria. Todos os procedimentos com o abate devem ser realizados por um muçulmano praticante, em geral árabe, treinado especificamente para essa função.
O oficio do degolador é estritamente ligado às tradições religiosas e o abate, permeado de ritos. Cada animal que passa pela mão desse profissional, é oferecido a Alá antes de ser morto. Com um facão minuciosamente afiado em punho, ele pronuncia, em árabe, a frase “em nome de Deus” e sacrifica o animal. Omar Chahine, supervisor islâmico do frigorífico Minerva, em Barretos (SP), explica que esse oferecimento ocorre na intenção de que o animal não sofra, e que o sacrifício seja apenas para o sustento de quem dele se alimenta. “É um agradecimento pelo alimento e mostra que o trabalho é voltado exclusivamente à alimentação humana, sem crueldade pela morte de outro ser vivo”, afirma. Sempre que possível, o animal deve estar posicionado na direção da cidade sagrada de Meca (Arábia Saudita), intensificando o caráter ritualístico do ato.
É preciso ainda dissociar os elementos vitais e, por isso, é preconizada a retirada total do sangue do animal. “A doença vive no sangue e queremos um animal saudável”, diz o supervisor-geral de abate da Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal (Cibal), Tamer Mansur. Dessa forma, a sangria é uma parte importante, assim como os cuidados no pré-abate. Antes da morte, o boi ou o frango deve descansar, no mínimo, 12 horas “para não ficar agitado e esvaziar o estômago”, diz Omar Chahine. Deve-se evitar, também, que tenham comido ração com proteína animal ou recebido hormônios. O post mortem também é regido pela doutrina e as carcaças halal são separadas das convencionais. O contato com o produto convencional é estritamente proibido, mesmo já embalado.
Cada frigorífico tem na equipe um degolador e um supervisor de abate. A certificação do produto halal, que hoje alcança mercados no Oriente Médio, África e Ásia, é feita há mais de 30 anos por empresas especializadas, como a Cibal Halal e o Centro de Divulgação do Islam para a América Latina (CDIAL). Com equipes próprias para averiguar todo o processo, essas empresas dão a garantia ao importador de que a produção foi realizada segundo os preceitos da religião.
O Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura não atua em certificações de cunho religioso, como a halal. No entanto, todo estabelecimento, independentemente do tipo de abate realizado, conta com fiscais que examinam as áreas dos matadouros e frigoríficos e verificam o cumprimento de programas relativos à higiene, à documentação do estabelecimento e às condições de saúde do animal.
O mercado halal em todo o mundo é estimado em mais de US$ 400 bilhões, com crescimento de 15% ao ano. Dados da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) apontam que 33% da produção de frango do Brasil são destinadas ao mercado halal, tendo a Arábia Saudita como o principal comprador. Na carne bovina, o percentual chega a 40%, com destaque para o Egito.
No frigorífico Minerva, em Barretos, esse abate foi incorporado à rotina diária e é realizado em uma área específica. Bruno Cunha, diretor de exportações para o Oriente Médio do grupo, conta que a produção é de 15 mil toneladas por mês de carne bovina e a demanda só aumenta, desde 1993, quando foi iniciado o comércio com aquela região. O investimento nas relações com países muçulmanos é tão expressivo que o frigorífico mantém escritórios em diversas nações, como Líbano, Arábia Saudita e Argélia.
Promovendo o produto nacional
Para ampliar esse mercado, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) ajuda a promover produtos nacionais em eventos do setor e feiras de alimentos. Em parceria com o Ministério da Agricultura, a entidade já realizou missões aos Emirados Árabes, Argélia e Egito, com destaque para as carnes halal.
O secretário-geral da entidade, Michel Alaby, ressalta que pelo menos metade dos US$ 480 bilhões anuais movimentados pelo mercado halal vêm dos países árabes. Ele vê o sistema de abate como vantagem competitiva para as indústrias brasileiras. “Há grande chance de crescer, mas devemos nos preparar, pois essa é uma certificação oneros a que exige tempo e trabalho. Mas as empresas deveriam investir mais, por se tratar de um mercado cativo”, ressalta. Malásia, Inglaterra, Estados Unidos, Turquia e Egito são grandes fornecedores de alimentos industrializados halal no mundo.
Levantamento da CCAB mostra que os países árabes importam cerca de US$ 70 bilhões de produtos agroindustriais e que o Brasil supre apenas 10% desse total. Alaby acredita que é possível abocanhar fatias maiores desse mercado, desde que se preste mais atenção à importância da agregação de valor aos produtos. Nesse fluxo, as carnes halal apresentam esse diferencial, na opinião do secretário da entidade.
Abate para judeus
Em menor escala no Brasil, mas seguindo princípios semelhantes aos do halal, a certificação kosher (ou kasher) é feita especificamente para atender consumidores judeus. O termo se aplica a alimentos preparados de acordo com as normas alimentares da religião judaica, a kashrut. O abate de bois e aves é supervisionado por um rabino e, assim como na religião muçulmana, denota a conexão entre o homem e Deus por meio da alimentação.
De acordo com a doutrina judaica, os alimentos ingeridos são absorvidos por todo o corpo, afetando atributos da personalidade. Para os praticantes da religião, aves de rapina e suínos têm o poder de acentuar a agressividade e estão proibidos pela Torá, o livro sagrado dos judeus.
A degola também é a base do abate kosher, realizado com instrumento específico para o corte das artérias carótidas e veias jugulares. O ritual leva o nome de schechitá e os sacerdotes responsáveis são chamados de shocatim, como explica Albert Cohen, rabino da Congregação e Beneficência Sefardi Paulista. A saúde do corpo e da alma, tanto do animal, quanto de quem vai consumir a carne, é importante para um povo com mais de trinta séculos de tradições. “O sistema vem das origens do povo de Israel e visa a diminuir ao máximo o sofrimento do animal”, afirma.
Cohen conta ainda que a lei judaica proíbe o abate na presença de outros animais para evitar que presenciem a aflição da espécie. A ingestão do sangue também não é bem vista pela religião. Após a morte do animal, a carne é salgada com o propósito de absorver todo o líquido, conservá-la e protegê-la de micróbios.
Segundo Albert Cohen, a carne kosher de boi ou frango produzida no Brasil é embarcada basicamente para os israelenses. “Dependendo da época, há vários frigoríficos trabalhando para exportar a Israel”. Ele cita o caso de uma planta em José Bonifácio (SP), que abate, por mês, 10 mil bois destinados àquele mercado. Para atender a comunidade judaica brasileira, o volume é de dois mil animais mensais.
Cada frigorífico tem na equipe um degolador e um supervisor de abate. A certificação do produto halal, que hoje alcança mercados no Oriente Médio, África e Ásia, é feita há mais de 30 anos por empresas especializadas, como a Cibal Halal e o Centro de Divulgação do Islam para a América Latina (CDIAL). Com equipes próprias para averiguar todo o processo, essas empresas dão a garantia ao importador de que a produção foi realizada segundo os preceitos da religião.
O Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura não atua em certificações de cunho religioso, como a halal. No entanto, todo estabelecimento, independentemente do tipo de abate realizado, conta com fiscais que examinam as áreas dos matadouros e frigoríficos e verificam o cumprimento de programas relativos à higiene, à documentação do estabelecimento e às condições de saúde do animal.
O mercado halal em todo o mundo é estimado em mais de US$ 400 bilhões, com crescimento de 15% ao ano. Dados da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) apontam que 33% da produção de frango do Brasil são destinadas ao mercado halal, tendo a Arábia Saudita como o principal comprador. Na carne bovina, o percentual chega a 40%, com destaque para o Egito.
No frigorífico Minerva, em Barretos, esse abate foi incorporado à rotina diária e é realizado em uma área específica. Bruno Cunha, diretor de exportações para o Oriente Médio do grupo, conta que a produção é de 15 mil toneladas por mês de carne bovina e a demanda só aumenta, desde 1993, quando foi iniciado o comércio com aquela região. O investimento nas relações com países muçulmanos é tão expressivo que o frigorífico mantém escritórios em diversas nações, como Líbano, Arábia Saudita e Argélia.
Promovendo o produto nacional
Para ampliar esse mercado, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) ajuda a promover produtos nacionais em eventos do setor e feiras de alimentos. Em parceria com o Ministério da Agricultura, a entidade já realizou missões aos Emirados Árabes, Argélia e Egito, com destaque para as carnes halal.
O secretário-geral da entidade, Michel Alaby, ressalta que pelo menos metade dos US$ 480 bilhões anuais movimentados pelo mercado halal vêm dos países árabes. Ele vê o sistema de abate como vantagem competitiva para as indústrias brasileiras. “Há grande chance de crescer, mas devemos nos preparar, pois essa é uma certificação oneros a que exige tempo e trabalho. Mas as empresas deveriam investir mais, por se tratar de um mercado cativo”, ressalta. Malásia, Inglaterra, Estados Unidos, Turquia e Egito são grandes fornecedores de alimentos industrializados halal no mundo.
Levantamento da CCAB mostra que os países árabes importam cerca de US$ 70 bilhões de produtos agroindustriais e que o Brasil supre apenas 10% desse total. Alaby acredita que é possível abocanhar fatias maiores desse mercado, desde que se preste mais atenção à importância da agregação de valor aos produtos. Nesse fluxo, as carnes halal apresentam esse diferencial, na opinião do secretário da entidade.
Abate para judeus
Em menor escala no Brasil, mas seguindo princípios semelhantes aos do halal, a certificação kosher (ou kasher) é feita especificamente para atender consumidores judeus. O termo se aplica a alimentos preparados de acordo com as normas alimentares da religião judaica, a kashrut. O abate de bois e aves é supervisionado por um rabino e, assim como na religião muçulmana, denota a conexão entre o homem e Deus por meio da alimentação.
De acordo com a doutrina judaica, os alimentos ingeridos são absorvidos por todo o corpo, afetando atributos da personalidade. Para os praticantes da religião, aves de rapina e suínos têm o poder de acentuar a agressividade e estão proibidos pela Torá, o livro sagrado dos judeus.
A degola também é a base do abate kosher, realizado com instrumento específico para o corte das artérias carótidas e veias jugulares. O ritual leva o nome de schechitá e os sacerdotes responsáveis são chamados de shocatim, como explica Albert Cohen, rabino da Congregação e Beneficência Sefardi Paulista. A saúde do corpo e da alma, tanto do animal, quanto de quem vai consumir a carne, é importante para um povo com mais de trinta séculos de tradições. “O sistema vem das origens do povo de Israel e visa a diminuir ao máximo o sofrimento do animal”, afirma.
Cohen conta ainda que a lei judaica proíbe o abate na presença de outros animais para evitar que presenciem a aflição da espécie. A ingestão do sangue também não é bem vista pela religião. Após a morte do animal, a carne é salgada com o propósito de absorver todo o líquido, conservá-la e protegê-la de micróbios.
Segundo Albert Cohen, a carne kosher de boi ou frango produzida no Brasil é embarcada basicamente para os israelenses. “Dependendo da época, há vários frigoríficos trabalhando para exportar a Israel”. Ele cita o caso de uma planta em José Bonifácio (SP), que abate, por mês, 10 mil bois destinados àquele mercado. Para atender a comunidade judaica brasileira, o volume é de dois mil animais mensais.