sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dividir para fortalecer o campo

      Rio Grande do Sul experimentará um novo modelo de gestão pública para o campo a partir de janeiro de 2011. A segregação do agronegócio entre grandes e pequenos, já adotada pelo governo federal, será implementada pela administração Tarso Genro com a promessa de ampliar o atendimento à agricultura familiar sem perder o foco nas lavouras e criações comerciais.

      Apesar de o modelo não ser unanimidade entre lideranças ruralistas, é inegável que a estratégia adotada pelo presidente Lula nos ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura obteve sucesso. Afinal, nunca se teve tanto crédito para a atividade primária brasileira.

       Mas, apesar de sobrarem recursos, ainda faltam condições para acessá-los. Endividados por uma trajetória histórica de crise, secas e enchentes, os agricultores precisam, agora, de políticas públicas que facilitem o acesso a esses recursos e neutralizem os efeitos negativos da desvalorização do dólar no resultado das exportações.

      Falta ainda incluir entre as prioridades dos novos governantes ações efetivas que garantam renda mesmo frente às adversidades, como seguro rural abrangente, cumprimento da política de preços mínimos e ajustes de mercado com ferramentas de comercialização mais efetivas. Só assim, será possível enfrentar as incertezas mercadológicas e climáticas, sejam as chuvas, seja o granizo, e até mesmo o ameaçador La Niña, que tanto assusta os produtores que semearam neste verão.

      As projeções, até agora, apontam perdas de produtividade na soja e no milho, o que ainda depende da intensidade com que essa "menina má" baterá à porta da lavoura. O único grão favorecido deve ser o arroz irrigado, que tem projetada uma das maiores safras da sua história.

        Na pecuária, o cenário é favorável. Com preços animadores, a criação de gado recupera a sua pujança. Até mercados que passaram por dificuldades retomam seu vigor, como a ovinocultura, que experimenta preços históricos desde o mês de maio, e a suinocultura, que, após amargar cotações abaixo do custo de produção, recupera gás.

        A conjuntura é consolidada pela sanidade do rebanho, apesar de suspensões pontuais na compra de carne bovina termoprocessada e de questionamentos internacionais com relação à imprecisão na rastreabilidade.

       O desafio que se avizinha em 2011 é a retirada da vacinação contra febre aftosa. O debate deve ganhar corpo no decorrer do ano e dividir lideranças. Apesar da medida ser vista com ressalvas, é indiscutível a posição de que há necessidade de planejamento e fiscalização rigorosa para não se pôr tudo a perder.