terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Utilização de biorregulador na lavoura provoca divergências entre pesquisadores

Agricultores buscam minimizar efeitos do La Niña com produto de fórmula atraente


Katia Baggio - Londrina (PR)
Começa o período de aplicação de defensivos nas lavouras de soja. A população de pragas e ervas daninhas deve ser controlada conforme a pesquisa indica, nem muito cedo, nem muito tarde. Muitos produtores também estão adotando o biorregulador, uma espécie de vitamina adicional que é pulverizada na soja. Mas a eficiência do produto desperta dúvidas entre os pesquisadores.

Uma passagem pela lavoura para aplicar o inseticida, outra para distribuir o herbicida. E já que o maquinário está no campo, muitos produtores de soja no Brasil aproveitam para pulverizar também um biorregulador. O produto é relativamente barato, aumenta em 1,2%, em média, o custo de implantação da lavoura. Por isso, chama a atenção do
agricultor, já que a promessa da fórmula é atraente.

É um produto de uma linha que atua na morfologia e na fisiologia da planta. Ela em si promete um melhor enraizamento, uma melhor floração e, consequentemente, uma melhor granação, e com isso um rendimento melhor. Ele não prejudica, inclusive, o grau toxicológico dele está dentro das matrizes ambientais, ele não incomoda nesse sentido – afirma o engenheiro agrônomo Áureo Lantmann.

Os produtores estariam adotando os biorreguladores especialmente este ano para reduzir perdas com prováveis estiagens prolongadas sob o efeito do La Nina.

Enquanto os agricultores que adotam essa vitamina extra garantem que colhem mais, a pesquisa questiona a necessidade do produto.

Os pesquisadores lembram que vários fatores influenciam o resultado final da colheita. E argumentam que os biorreguladores devem ser submetidos a sistemas de testes em instituições diferentes, além dos realizados pelos fabricantes.


Esses testes precisam ser validados por outros parceiros. Isso é comum: precisa que tenha sido feito um experimento com repetições, em anos distintos por pessoas que não estejam ligadas diretamente às empresas para que sejam feitos esses testes. Assim como na medicina é feito um "duplo cego". Nem o médico, nem o paciente, muitas vezes quando se está testando um produto sabem qual é o produto. A partir dos testes é que vai ser dito se o produto funciona, ou não – comenta César de Castro, pesquisador da Embrapa Soja.

O pesquisador também lembra que cada parcela da lavoura pode ter características diferentes, o que altera o resultado até mesmo dos produtos tradicionais.

– O que a pesquisa faz? Ela, quando faz esses testes, tenta dividir essa área em diversas parcelas é feito um sorteio e o produto é testado em vários locais, para tentar eliminar a possibilidade de que aquele local que se julga homogêneo não seja homogêneo. Então, produzir mais ou menos não significa que o produto seja bom ou ruim. O que pode dizer isso são trabalhos feitos com repetições, muitas repetições, em vários anos, em diferentes locais – completa o pesquisador.


Fonte: Canal Rural